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Vera Rodrigues: “A Baixa está a ficar na moda”

A SRU é fundamental para a reabilitação da cidade, diz a líder da Juventude Popular do Porto. Vera Rodrigues é a terceira convidada do ciclo de entrevistas do JPN e do blogue “O Porto em Conversa”.

Vera Rodrigues divide a sua actividade profissional entre a Economia e a Juventude Popular (JP), que representa na Assembleia Municipal do Porto. A líder distrital acredita que a Baixa está “a ficar na moda”, mas os jovens continuam a sair do centro por causa do ritmo lento da reabilitação. “As circunstâncias actuais não ajudam à dinâmica do mercado imobiliário”, ressalva.

A economista afirma que a esquerda do Porto critica o poder autárquico simplesmente para “apresentar trabalho”, uma vez que apresentam “muito pouco conteúdo” no combate político que leva a cabo. Vê ainda a construção do Centro Materno-Infantil como algo “completamente absurdo” nos moldes em que se insere e acredita que se deve investir cada vez mais na área social e educativa.

Esta é a terceira entrevista que resulta da parceria com o blogue “O Porto em Conversa“, da autoria de Vítor Silva, que tem o objectivo de entrevistar todos líderes das juventudes partidárias do Porto, preferencialmente aqueles que marcam presença na Assembleia Municipal.

Ouça a entrevista completa aqui.

Comecemos pelo no Diagnóstico Social do Porto [em PDF]. Para o presidente da JS, o documento é “uma prova catastrófica do trabalho que não tem vindo a ser desenvolvido pela autarquia”. Já para João Paulo Meireles, da JSD, são “várias as interpretações” que podem ser adoptadas em relação ao estudo. Qual é a posição da JP?

Quem solicitou este diagnóstico foi a actual coligação, o PSD e o CDS. A não ser que fossem duas forças políticas absolutamente masoquistas, mais valia terem ficado quietinhas sem saber o que se está a passar. Esta caracterização e a forma como se vai poder actuar em diferentes vertentes nos diferentes problemas que este diagnóstico aponta só vão ser possíveis de ser feitas porque se conhece efectivamente a raiz dos problemas e as zonas críticas. De si, é um bom princípio ser feito esse levantamento e ter-se criado esse documento que, de alguma forma, caracteriza a realidade do Porto social.

O pelouro da inclusão social tem tido centenas de iniciativas que permitem atenuar, minimizar e compensar muito tempo perdido para algumas pessoas e gerações e faz uma actuação na juventude até à área de idosos. Um exemplo muito recente é a ligação das escolas com a formação na área da música para crianças, por exemplo, no Bairro do Cerco. Percebe-se que a aprendizagem de instrumentos musicais permite àquelas crianças ganharem um gosto e um interesse que os desvie de comportamentos desviantes. Não são medidas milagrosas mas são pequenos passos que permitem àqueles miúdos sentirem-se mais valorizados.

Depois, no próprio diagnóstico social, é importante percebermos que há várias directrizes. Há medidas que podem ser tomadas de forma isolada pela Câmara Municipal, há outras que não podem. Temos de perceber a situação social do Porto: muita população jovem tem vindo a sair para procurar casa nos arredores e isso não há câmara que consiga controlar. Isso faz com que muitas vezes sejam reforçados negativamente o tipo de habitantes com que estamos a ficar no Porto, nos bairros e nas zonas mais degradadas.

Quanto à reabilitação, acha que o papel de fiscalização da Câmara do Porto (CMP) tem sido suficiente? É que já aconteceu a derrocada do prédio na rua Miguel Bombarda em Agosto e agora em Novembro um prédio incendiado, em que a fachada caiu e matou um bombeiro.

A Câmara não pode fazer o papel de polícia de esquina em esquina e de rua em rua. Muitas vezes, os próprios senhorios são obrigados a tal, mas se não têm meios, não o podem fazer. Há situações em que a Câmara pode intervir, há outras em que está absolutamente limitada a fazê-lo porque muitas vezes não se consegue identificar sequer quem é o senhorio, muitas vezes são problemas de partilha e não se consegue perceber a quem atribuir a responsabilidade. Numa situação destas, a Câmara faz o quê? Uma expropriação? A quem? Não é tão linear assim.

Mas no caso recente da na Rua dos Caldeireiros, o caso e a pessoa responsável eram já anteriormente conhecidos.

E o que é que a câmara pode fazer numa situação dessas?

Isso é o que eu lhe pergunto.

Repare, tem uma casa e a casa está numa situação degradada e até está reunir umas poupanças para a recuperação. Acha justo a Câmara de um dia para o outro lhe tire a casa? Eu não acharia.

Mas não será mais seguro a expropriação da casa a esperar que, enquanto a senhoria faz a poupança, se corra o risco de cair e se ponha em risco a segurança das pessoas?

Não, aí discordo.

Parece-lhe suficiente o papel que a Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) tem desempenhado? A CMP poderia ter um papel mais interventivo, por exemplo promovendo um mercado de arrendamento?

A SRU tem uma participação maioritária do Governo e não da Câmara. E, por isso, a forma como tem actuado é por via de parcerias com fundos imobiliários, com o próprio Estado, com a própria Câmara Municipal… mas sobre a área de influência que a SRU pode ter, já fez muito mais que a entidade que antes estava com essa responsabilidade e, para o bem e para o mal, a reabilitação da Baixa não pode estar exclusivamente nas mãos do financiamento público, por isso tem dependido muito também do interesse imobiliário nessa reabilitação.

O mercado imobiliário está em queda e portanto não ajuda a que haja um interesse suficiente para o nível de reabilitação que se necessitaria. Ainda assim, o que se tem feito, nomeadamente a construção das unidades hoteleiras previstas para a zona da Baixa, são símbolos dessa revitalização e o tipo de equipamentos, lojas, restauração, bares… que lá se estão a instalar são prova disso mesmo.

“A Câmara não pode fazer o papel de polícia”

Os prédios que a SRU tem vindo a reabilitar têm tido uma procura enormíssima, portanto o que não está a ser feito não está a ser feito simplesmente porque não há financiamento para se fazer a um ritmo maior. Infelizmente, as circunstâncias em que estamos neste momento não ajudam propriamente a que haja a dinâmica do mercado imobiliário seja o mais adequado para o ritmo de recuperação de que a Baixa precisaria.

Então é inevitável que o Porto continue a perder habitação, e nomeadamente, jovens?

Não, de maneira nenhuma. Porque aquilo que é a Baixa hoje tem zero a ver com aquilo que era a Baixa há cinco anos. Quando vemos o tipo de ofertas que a própria iniciativa privada lá está a localizar, alguma coisa há-de querer dizer. É um claro sinal de que a Baixa está a ficar na moda. Mas depois temos aqui um pequeno problema. Nós nesta altura temos muita vida na Baixa e temos pessoas a queixarem-se do barulho que os jovens fazem. A Baixa estava ao abandono, tínhamos pessoas a queixarem-se de assaltos na rua porque não havia movimento. Não é fácil gerir tudo isto. Mas o que é importante é que a Baixa está a ganhar uma dinâmica que eu nunca tinha visto.

Relativamente aos cortes orçamentais que serão levados a cabo na autarquia, em que se pode canalizar essa poupança?

Eu acho que há áreas em que a CMP não pode deixar de investir – a área social e a área da educação. Ainda nesta Assembleia Municipal aprovámos um pedido de financiamento especial para um bairro social. É um sinónimo claro e evidente de que a área social não está de todo posta de parte. Tem-se investido muitíssimo nas parcerias com as empresas de construção para ajudar a que os próprios habitantes possam fazer a recuperação das suas casas e vivam nelas em condições com menos custos e onerando assim menos o erário público. Porque são áreas críticas para o Porto, nesta altura.

Eu se calhar punha à frente da cultura, por exemplo. Claramente que sim. Nós temos que ter no Porto uma população e crianças que tenham condições de crescimento salutares porque a não existência destas condições inquina completamente as gerações que virão. E, por isso, temos de criar condições de formação, boa educação… principalmente às classes que mais o necessitem. Para construímos um Porto mais equilibrado e que seja um Porto de futuro.

“Chegaram a ser arrancados cartazes da Juventude Popular”

Como é que a Vera encara o facto de a CMP ter tentado estabelecer zonas de proibição de colocação de propaganda política, chegando mesmo existir situações em que foi arrancada propaganda do PCP?

A Câmara o que definiu foi o programa e o regulamento de colocação de cartazes de todo o tipo de propaganda, definindo espaços próprios para que isso fosse feito. Não foi contra a colocação de cartazes do PCP, foi contra a colocação de cartazes de toda a gente. Chegaram a ser arrancados cartazes da JP. Partirmos do princípio que foram os cartazes do PCP a serem arrancados – não é verdade ou, pelo menos, não foram só os do PCP. E esse regulamento de propaganda tem tudo a ver com o ordenamento da cidade como um todo.

Nós entendemos que do ponto de vista da imagem do espaço público deve haver evidentemente sítios estabelecidos para tal. Havendo espaços que essa colagem possa ser feita, não há razão nenhuma para que andemos a colar cartazes em todos os postos de electricidade, seja com a cara de quem for. Portanto, é sinónimo de evolução civilizacional. Para o bem e para o mal de todos porque as situações são idênticas.

Então também considera correcta a decisão de sancionar os grafittis do PCP?

Eu não gostaria mesmo que fizessem graffitis na parede de minha casa porque vou ter de comprar tinta para a pintar. Isto se for recuperável com uma lata de tinta, que pode não ser. Não me interessa saber se são do PCP ou de quem é que são. Porque não haver espaços onde possam ser feitos? Agora, termos uma cidade inteira com as paredes todas pintadas seja por quem for, acho que é aquele momento em que a liberdade de uns choca um bocadinho com a liberdade dos outros. Não acho justo, não acho que seja um equilíbrio social digno de louvor. Não é o PCP que tem razão e os outros falta dela. É uma questão de coerência e organização.

Publicado aqui a 15 de Dezembro de 2010

Vera Rodrigues: “A descentralização é a solução para terminar com gastos absurdos”

Vera Rodrigues defende uma gestão local para evitar “gastos absurdos”. A construção do Centro Materno-Infantil deve ser bem pensada, uma vez que exige um grande financiamento.

A nível autárquico, a Câmara Municipal do Porto (CMP) tem competências directas a nível do básico e do secundário. Em 2008, a Juventude Popular da Maia organizou um debate, que contou com a presença da Vera, em que apresentou um documento (no Scribd) com dez medidas para a educação.

Há um ponto em que é referida a ideia de “entregar a gestão das escolas inseridas na rede pública de educação a conselhos administração devidamente eleitos pela comunidade escolar”. Parece-lhe de facto uma ideia viável em Portugal, onde continua a existir um grande afastamento entre a escola e o que poderia ser essa comunidade escolar?

Eu acho que, de certa forma, esse domínio já está a ser feito quando, por exemplo, se está a descentralizar a gestão das próprias escolas primárias e do pré-escolar para as próprias câmaras municipais. Uma das coisas que o CDS defende é a descentralização do Estado. Nós entendemos que a gestão local será mais eficaz porque consegue ser mais atenta àquilo que é a realidade local. Por exemplo, na forma de organização das escolas vamos mais longe quando propomos que dentro de um patamar base que tem de ser idêntico, poderiam apostar também noutros conteúdos. As escolas primárias leccionariam todas as disciplinas básicas, mas depois alguns meios escolares seriam mais direccionados para a área da música, outros em ciências, …

Isso pode ser enriquecedor do ponto de vista da formação educacional das crianças. Pode haver essa inovação, que pode ser importante e atractiva até sob o ponto de vista da competitividade entre escolas e da dinamização de algumas áreas mais desfavorecidas ou mais desabitadas, como a zona da Baixa. Acho que a gestão mais localizada poderia ser uma solução para se alcançar esse caminho. Essa descentralização, nesse caso, seria positiva. O parque escolar pode ser melhor gerido com gestores profissionais. Os professores devem saber dar aulas, o gestor deve saber gerir orçamentos.

Nós somos por uma gestão profissionalizada do equipamento público e, infelizmente, a situação económica que o país vive vem-nos dar razão. Todos os dias vêm, na comunicação social, exemplos de gastos absurdos. Muito desse desperdício é tão deslocalizado que as pessoas que estão no núcleo central do Estado perdem a noção de todo o desperdício que fica pelo caminho.

Pegando nessa questão, houve há pouco uma contenda nos serviços de limpeza urbana. Determinou-se que a limpeza de uma parte da cidade ficava a cargo de uma empresa privada, o que, segundo um comunicado do PCP, custaria no início um determinado valor (5,4 milhões de euros). Mas quando foi feita a adjudicação era outro (7,1 milhões de euros) e quando vimos a conta de gerência era um valor ainda superior (8,4 milhões de euros). Entretanto foram pedidos os estudos que suportaram esta decisão, que ainda não foram entregues. Parece uma situação duvidosa…

Não está a pegar, em parte, numa informação devidamente factual, na medida em que sendo um comunicado do PCP tem à partida algum conteúdo de combate. Eu não conheço o valor em que possa ter havido essa derrapagem, mas há um princípio fundamental – o Estado e os organismos públicos devem revelar e supervisionar bem. Devem garantir que a prestação dos serviços que a população necessita é feita de uma forma correcta, mas não tem de ser o Estado e as entidades públicas a chamar a si essa responsabilidade.

“Há um conjunto de população que, com aquilo que produz, não paga o que gasta”

Temos organismos públicos a mais, temos um gasto público insustentável e temos, de facto, um conjunto de população que com aquilo que produz não paga o que gasta. O PCP pensa que tudo o que vem da coligação, de Rui Rio e dos seus vereadores – é uma história parecida com o lobo mau – está cheio de más intenções. Evidentemente que haverá uma justificação para o caso de ter havido essa alteração face ao que estava previsto. E, infelizmente, estamos cheios de maus exemplos a esse nível.

Na Assembleia chegou a “vir à baila”, por exemplo, a derrapagem das contas da Casa da Música [CdM], em que o valor final teria dado praticamente para construir uma segunda CdM quando comparado com o orçamento inicial. O Estado, naquilo que atribui aos privados, não tem conseguido cumprir o seu papel, que é fundamental. Assim, compreendo que muitas vezes o PCP possa ver os privados como sendo os maus da fita, mas quem tem de fazer cumprir aquilo que está previsto é o Estado; senão chegamos a situações tão danosas para o país, como foi a do BPN. É incrível como a supervisão de um órgão que devia zelar pelo interesse público falhou completamente. É um exemplo muito grave, uma falha apontada como sendo um elemento que contribuiu para o princípio do nosso fim.

Mas se há uma razão válida porque não escolher ser transparente? E, assim, não dar oportunidade a outros partidos de dizerem estas coisas, que podem ser prejudiciais à Câmara

Se a Câmara estivesse sempre a desmentir…

Mas é que nesse caso a Câmara não precisaria de desmentir nada. Bastava ser transparente…

A ter havido um desvio face aquilo que foi o inicialmente orçamentado, há necessariamente uma razão. Se a Câmara estivesse sucessivamente a desmentir tudo, não fazia absolutamente mais nada. E uma pessoa apercebe-se disso por exemplo, na Assembleia Municipal. Muitas das vezes, é puro combate político.

Mas também fomenta a dúvida na população do Porto.

“Há muito pouco conteúdo no combate político da esquerda do Porto”

Não creio. Muitas vezes, o PS e o PCP lançam, de facto, suspeitas completamente infundadas para mostrar trabalho. E aquilo que se tem vindo a perceber, quer queiramos quer não, é que a Câmara tem feito imenso trabalho. Fala-se tanto da falta de agenda cultural desta cidade, mas provavelmente é uma agenda e são opções culturais que podem chocar com algumas forças políticas ou grupos. Mas não é segredo nenhum e basta entrar no site da Câmara, clicar na Agenda Cultural e perceber a quantidade de espectáculos que vão acontecer só nos próximos meses. Às vezes, há muito pouco conteúdo no combate politico que é feito pela esquerda na cidade do Porto. É algo que digo com algum conforto porque é verdade.

É também combate político a questão do Centro Materno-Infantil? Qual é o real interesse da Câmara do Porto? Parece que esta a haver uma simples luta política usando o argumento do Plano Director Municipal.

Há muitas dúvidas sobre a pertinência de se construir o Centro Materno-Infantil [CMI] que têm a ver com a localização e com o projecto que os responsáveis pelo CMI têm vindo a defender. Se vir o projecto, percebe que aquilo é uma coisa completamente absurda sob o ponto de vista do contexto e do enquadramento que é a área envolvente. Ficaria um edifício completamente descontextualizado de tudo o que está à volta. Também se coloca a questão se é ali que faz sentido construir ou não.

Depois, há um conjunto de médicos que estão completamente contra a construção do CMI porque entendem que pode haver formas de reaproveitar outros centros que já estão criados. Há muitas opiniões dissonantes. Há pouco tempo falava com uma médica que me dizia que não faz sentido absolutamente nenhum fazer-se ali o CMI porque é possível reconverter algumas unidades e equacionar outros sítios. Não é uma questão de má vontade. Nesta altura, também há a questão da necessidade de financiamento. É necessária a ponderação se é um investimento que fará ou não sentido ou se os centros hospitalares associados a esta a zona geográfica conseguem dar uma resposta aquilo que é feito.

Publicado aqui a 15 de Dezembro de 2010.

Vera Rodrigues: “No Porto, a coligação PSD/CDS-PP funciona muito bem”

No Porto, PSD e CDS têm sabido “respeitar-se e trabalhar em conjunto”. A líder distrital da JP Portoentende que a consciência dos jovens está cada vez mais crítica.

Qual é o balanço das três eleições em que houve coligação? A vossa representação ficou valorizada como partido?

Muitíssimo. Dentro do partido e da JP há quem seja contra as coligações, mas o Porto é um exemplo onde as coisas funcionam muito bem e onde os dois partidos se têm sabido respeitar e têm trabalhado em conjunto no terreno. Nós temos conseguido ter nas juntas de freguesia esse trabalho de proximidade.

O facto de termos conseguido ganhar o segundo mandato alimentou mais o reconhecimento de que as coisas estavam a ser bem feitas. Estive na Junta de Freguesia de Paranhos nos últimos quatro anos e tive a oportunidade de acompanhar tantas coisas que uma junta de freguesia pode fazer bem, sobretudo no apoio social. É na proximidade que se tem com as pessoas que se consegue fazer aquilo que pode parecer simples, mas é complicado e determinante para a qualidade de vida das pessoas. Estar num junta de freguesia permite-nos ter uma noção da realidade completamente distinta. Ali, sentimos que cada orçamento e cada verba disponibilizada era empregue e muito bem empregue.


Como agora se diz que os jovens estão cada vez mais afastados da política, como está a Juventude Popular (JP) do Porto em termos de popularidade?

Eu diria que nós estamos num momento de contraciclo. Quer queiramos quer não, a realidade recente tem trazido algumas mudanças e algumas novidades que têm mexido efectivamente com a consciência dos jovens, que é cada vez mais crítica e informada. Isso faz com que muitas vezes a sua própria ânsia de participação e manifestação, seja de que forma for, possa acontecer. Não concordamos de todo que os jovens estejam alheados da política – estão cada vez mais envolvidos noutras formas de associação, estão cada vez mais críticos.

Tenho dificuldade em aceitar que estão mais afastados porque o sinal que nós temos tem sido contrário. Temos estado a crescer bastante em termos de estruturas e de implementação, mas temos, nalguns casos, alguma dificuldade de comunicação. O verdadeiro poder do bloco central limita e condiciona muito aquilo a que se chama muitas vezes de liberdade. Fala-se na revolução, fala-se nas conquistas de Abril, mas ainda há muita limitação à liberdade. Nós temos inúmeros casos de pessoas que não se unem à JP ou ao CDS porque têm receio de perder o emprego na junta de freguesia ou na câmara ou no organismo público a que possam estar ligados.

O CDS e a JP sofrem de um mal. Há um conjunto de mitos que, de todo, correspondem à realidade. Que nós somos o “partido dos ricos”, dos “betos da Foz”, e não é verdade. É uma ideia completamente errada que tentamos despir. Nós temos militantes que vivem em bairros sociais, como temos militantes que vivem na Foz. O Porto e o distrito e o país são muito diversos. É um estereótipo que não faz sentido.

Mas não lhe parece que posições como ser contra a lei actual do aborto ou contestar algumas medidas de reposição de igualdades em relação aos homossexuais são um pouco anacrónicas e se calhar contribuem para alimentar esse mito?

Não, é preciso que não misturemos as coisas. É evidente que o partido terá uma ideologia que podemos considerar dominante ou não, mas se eu lhe disser que dentro da JP há pessoas a favor do aborto ou a favor do casamento homossexual provavelmente não acredita, mas é verdade. O partido tem uma forma de pensar que defende, mas isso não se deve confundir e pensar que, a partir daí, todas as pessoas que estão dentro do CDS ou da JP pensam exactamente da mesma forma.

“Os jovens não estão alheados da política”

Eu não acho bem, nem acho mal, que o PS ou o PSD defendam posição A ou B. Se eles a defendem, devem ter alguma coerência, algum princípio que os leva a isso. O que me preocupa é o que a JP e o CDS defendem. Nesta lógica assumimo-nos como um partido mais conservador, mas isso não tem de fazer de nós os aliens que não têm noção daquilo que se passa na realidade e tão pouco quer dizer que todas as pessoas que estão dentro do partido pensam exactamente da mesma maneira.

Os nossos pilares ideológicos são, aliás, quase antagónicos entre si. O liberalismo, o conservadorismo e a democracia cristã são aparentemente incompatíveis e, no fundo, reúnem exactamente pensamentos que são diversos, mas que se tentam colocar, e se calhar por uma razão histórica, há direita. Afastados de um bloco central que achamos ser cada vez mais igual.

No texto “Pilares Ideológicos da Juventude Popular“, conservadorismo é descrito como “hostilidade ou, pelo menos, reticência, relativamente às inovações políticas, económicas e sociais, cujas repercussões são ainda desconhecidas ou pouco experimentadas”. Como é que combinam essa ideia com a ligação ao mundo empresarial que é uma das imagens do CDS e que precisa cada vez mais de inovação?

Há que perceber que dentro do partido há uma grande diversidade. O conservadorismo não tem de ser entendido necessariamente como algo mau. Talvez num momento como este, com as circunstâncias em que vivemos, o conservadorismo possa ser uma coisa boa quando pensamos em mudanças bruscas, como a que o Governo quer fazer. Se calhar, se fosse o CDS ou, eventualmente, até o PSD, era apelidado de ultra-liberal e fascista. Em muitos casos há determinados direitos relacionados com os trabalhadores que são efectivamente atacados e houve muito pouco cuidado na forma como se pensou e redefiniu, por exemplo, este Orçamento de Estado.

É evidente que não podemos continuar como estamos. Temos de repensar o país e perceber que não temos suporte porque também não temos população para aguentar a estrutura que temos definida ao nível das entidades públicas e do sector governamental. Este conservadorismo, em algumas situações, e nomeadamente situações de crise, pode ser importante como factor estabilizador. É nessa medida que leio o conservadorismo no CDS.

Como é que a JP transmite estas ideias aos jovens? Como é que têm criado uma política de proximidade com a cidade e especialmente com a Universidade do Porto?

Há aqui várias dinâmicas e várias formas de actuar. Quando falamos de cidade do Porto podemos falar nos organismos de governo da cidade onde possamos estar representados. A JP, de uma forma global, tem feito algum contacto político e, se houve deputado e juventude partidária que chamou a atenção para o atraso na definição das bolsas de estudo, foi o nosso líder Michael Seufert. Nós sentimos dificuldade em conseguir lançar um comunicado ou uma tomada de posição num jornal nacional, mas se calhar já conseguimos ter mais facilidade em fazê-lo nas redes sociais, por exemplo.

“Temos de repensar o país”

Mas em relação às redes sociais, os sites da JP estão um bocadinho desactualizados e inclusive o Núcleo de Estudantes Populares da Universidade do Porto (NEPUP) está desactualizado desde 2005.

Temos estado a fazer muitas outras coisas para além disso, mas se for ao da distrital do Porto tem lá as acções todas. E temos estado muitíssimos virados para o nosso Facebook e até para a presença em associações de estudantes. A nossa aposta nos núcleos tem sido feita em meios mais dispersos como concelhos onde haja uma dispersão geográfica maior.

Mas um estudante que queira saber mais sobre a JP e que se depare com um site desactualizado, que supostamente era feito directamente para ele, pode encarar isso como desleixo.

Eu acho que esse estudante provavelmente fará primeiro uma pesquisa no Facebook e aí encontrará um contacto muito mais dinâmico do que propriamente no NEPUP. De facto, é uma falha. Talvez a concelhia do Porto não tenha sabido dinamizar essa área como dinamizou outras. Mas temos um papel de acção muito concreto, por exemplo, junto dos bairros sociais. De uma forma mais ou menos discreta, obriga a Câmara a fazer tomadas de posição. Um dos trabalhos que conseguimos fazer, por exemplo, é nas juntas de freguesia onde a política se faz de forma mais pura.

Tem conhecimento da crescente insegurança que se tem feito sentir no pólo da Asprela. Que medidas poderia a JP tomar, através dessa acção social, para controlar esta situação?

Evidentemente que há que compilar esforços. A junta de freguesia não tem poder para pedir à PSP para passar a patrulhar mais, mas se calhar a Câmara já o pode fazer, nomeadamente através da Polícia Municipal. Eu estudei na Faculdade de Economia (FEP), no pólo da Asprela, e esse é um problema recorrente que já vem de há muito tempo. A concentração de população jovem sempre foi, de alguma forma, um problema. Só em Engenharia falamos de cerca de 6000 estudantes e todo aquele movimento – principalmente porque há zonas muito mal iluminadas na envolvência de Engenharia – sempre foi um foco de problemas.

Nós temos tentado, nomeadamente na FEP, envolver a comunidade local. Claro que é muito mais difícil de controlar um grupo de jovens que se juntam num lugar qualquer e que vão lá fazer assaltos ou partir vidros. Aí já é uma questão de policiamento. O envolvimento é sempre a melhor solução que se aplica em muitos casos. E mais propriamente nesse. Esses focos acabam por acontecer mais à noite. O que a JP pode fazer é pedir um reforço ao nível de segurança e patrulhamento.

Publicado aqui a 15 de Dezembro de 2010

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